Nos tempos livres, Ana Gonçalves aproveitava os ensinamentos adquiridos no festival Boom para fazer objectos com produtos aos quais ninguém ia dar uso. Um cinzeiro aqui, candeeiros ali, e resolveu rentabilizar o passatempo. Nasceu em Campo de Ourique, Lisboa, a loja Ecoholic que traz para Portugal um conceito que não estava muito desenvolvido no nosso país: a venda de objectos feitos com lixo e outros, ainda, que ajudem a poupar em casa. Loja onde ainda partilham conhecimentos em workshops de reciclagem.
"O objectivo da loja é vender produtos reciclados e ecológicos. Também aproveitar e, com criatividade, tornar objectos que já não têm uso noutros úteis. Já existe lixo a mais", diz ao DN Ana Gonçalves, que deixou a produção de espectáculos para se dedicar à reciclagem junto com a amiga Isabel Bernardo. A ideia surgiu depois de uma visita a Nova Iorque, nos Estados Unidos, onde conheceu este conceito. A diferença era a escala: "A loja de lá era do tamanho de um hipermercado, com as prateleiras cheias de objectos reciclados", diz.
Nas lojas com este conceito existem dois tipos de produtos: aqueles que foram feitos reaproveitando resíduos - como um estojo feito com sobras de pneus - e aqueles que promovem a reciclagem lá em casa - como sacos para colocar no autoclismo para poupar água.
Quem "achou piada" foi a vizinhança da Ecoholic e pela loja podem encontrar- -se produtos feitos com lixo dos habitantes da zona. Como uma estante construída com caixas de vinho e forrada com páginas tiradas de revistas antigas. "As pessoas que passavam na loja achavam os produtos giros e começaram a trazer as suas coisas para reciclar. Todos os dias chega algo de alguém", conta Ana Gonçalves.
Aliás, este pode ser a primeira vantagem deste tipo de lojas: ajudam as pessoas a tomar consciência de que o lixo pode ser mais do que apenas resíduos. "A isto chama-se eficácia percebida. Quando as pessoas tomam consciência da importância dos seus gestos para o ambiente. Quando existe este tipo de lojas, os portugueses tendem a aderir ao conceito de forma a dar um contributo para uma causa que acham correcta", explica Carolina Afonso, especialista em marketing ambiental. "A consciência ambiental está na ordem do dia", acrescenta.
Nas lojas como a Ecoholic podem encontrar-se desde amassadores de latas e garrafas - que prensam estes materiais de forma a facilitar o seu transporte - até limas feitas com pernas da boneca Barbie ou jarros transformados em candeeiros solares. A maioria vem de fora, principalmente da Inglaterra e Alemanha, pois em Portugal não há fabrico em série destes produtos. Apesar de tudo ainda há objectos portugueses, como os porta-moedas feitos com cassetes que são produto de uma artesã do Porto.
Esta loja tem apenas duas semanas, mas Ana Gonçalves já tem planeado o próximo passo: dar workshops de reciclagem. "Vamos dar aulas com técnicas de Do It Yourself [Faça você mesmo], como ensinar a fazer sabonetes, pasta de papel, fechos para comida, transformar t-shirts em sacos de compras e tudo o que a imaginação permitir", desvenda a proprietária.
fonte:dn.sapo